domingo, 25 de outubro de 2009

Feito um carnaval de Arlequim


"- Amava... amo...não sei. Só sei que quando me afasto de você a vida fica mais real.
As ruas, normais. O mundo fica mais democrático... me aproximo, começa o sonho, a gelatina, tudo desmanchando.
"Eu começo a perder o controle da minha solidão, sozinho eu me seguro, mas você chega e eu danço, pois você sabe de mil truques para me jogar no abismo."Não é possível, deve haver a possibilidade de um ser humano escutar o outro um dia.
Eu sempre tenho a sensação que você não me entende nunca. Ou melhor, eu sempre sinto que fico aquém das palavras.
Eu nunca consegui me explicar com você, nunca consegui passar o que sinto, o que eu sinto por você.
Eu queria...(eu sei que é loucura!) dizer uma palavra e atingir a significação plena...ser entendido. É o seguinte: deve haver uma palavra que, uma vez dita, muda o mundo.


Parece que tem um rio no meio de nós. E eu falo e o não rio não está mais...ai olho e tem.
Eu quero dizer a verdade.
Eu te proponho... nada.
Eu tenho alguma coisa pra te falar e eu não sei o que é...eu quero falar alguma coisa, quero te dizer tudo, quero que minha alma saia pela boca e eu fique estatelado morto, aí no seu tapete feito um atropelado...nu...absolutamente visível, transparente.
Quero dizer tudo que eu posso para você. Eu tenho de dar a minha alma.


"Será que nunca mais eu vou te esquecer?
Será que nunca mais eu vou olhar num espelho sem ver você refletida?
Será que nunca mais vai chover sem eu ver a chuva molhando seu rosto?
"Você vai entrar pela porta que eu deixei entreaberta.
Há uma hora que eu não penso noutra coisa. Você chegando na luz do jardim. Antes de você chegar eu ouço a tua ansiedade vindo, tua luz, teu som nas ruas, e eu ouço teu coração batendo, batendo, batendo por que vai me encontrar. Eu sei que minha presença te faz nervosa. Eu sei que você se arrumou melhor pra me ver. Eu sei que você sabe que eu sei de tudo que você era, e que o teu único tesouro é o que eu não sei mais...


"Quando eu ouço a tua voz o mundo se acalma. A tua voz vem calma no telefone, e eu fico toda protegida com falso tom de bondade que a tua voz assume.
Corro pra você em pânico e sei que você vai me receber sólido e amigo. E que pouco a pouco vai provar que você é o porto seguro, e eu a galera enlouquecida.
Eu sei, mas eu suportarei a humilhação pra poder ver teus olhos. (...)
Eu vou te enfraquecer e no fim da noite você vai estar caído feito um João Ninguém. Eu ajeitarei o batom, o salto alto, e partirei. (...) Vou voltar sozinha pro mundo, onde tudo gira feito um carnaval de Arlequim, e vou ficar infeliz feito um nada.
iv>




"Eu sei que vou te amar - Arnaldo Jabor.

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