segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Carta à Democracia




Noite fria e chuvosa...
Acordo e não vejo você.
Me sinto perdido, com medo...
Com o uma criança em noite de tempestade,
Que busca sua mãe.
Mãe... Volto ao passado e me lembro você...
Nasci forte e robusto!
Por meus pais não fui criado...
Não que por eles tivesse sido abandonado!
Um casal de portugueses me adotou
E meus pais em escravos transformou ...
Fui criado em vários regimes.
Colônia, monarquia e república
Hoje luto por você...
Oh! amada...
Satisfaça o desejo de milhares,
De corações que batem em
Meu peito por ti,
Democracia tão desejada!

1987

domingo, 1 de dezembro de 2013

" Os dragões não conhecem o paraíso"

"Tenho um dragão que mora comigo. Não, isso não é verdade. Não tenho nenhum dragão. E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço - seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu. Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser. Eles são solitários, os dragões. Quase tão solitários quanto eu me encontrei, sozinho neste apartamento, depois de sua partida. Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo, alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado. E digo ilusão porque, outro dia, numa dessas manhãs áridas da ausência dele, felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência), pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo."

 Caio Fernando Abreu.

Sangue de Coca-Cola.

Agora eu sei, Tati, que eu nunca vou poder assistir com você um comício do PCI em Roma: eu estou morrendo, Tati. Eles me mataram, eu estou sangrando e morrendo. E eu provo um pouco do meu sangue: tem gosto de Coca-Cola, Tati, e eu descubro que isso é a causa de tudo de ruim que aconteceu comigo e com o Brasil. Porque o Brasil também tem sangue de Coca-Cola.


Roberto Drummond, "Sangue de Coca-Cola".

terça-feira, 30 de abril de 2013

A Morte Chega Cedo




A morte chega cedo,
 Pois breve é toda vida
 O instante é o arremedo
 De uma coisa perdida.
 O amor foi começado,
 O ideal não acabou,
 E quem tenha alcançado
 Não sabe o que alcançou.
 E tudo isto a morte
 Risca por não estar certo
 No caderno da sorte
 Que Deus deixou aberto.

 Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

sábado, 6 de abril de 2013



Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina, Sê um arbusto no vale mas sê O melhor arbusto à margem do regato. Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore. Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva E dá alegria a algum caminho. Se não puderes ser uma estrada, Sê apenas uma senda, Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela. Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso... Mas sê o melhor no que quer que sejas. 

Pablo Neruda